Escolas matam a criatividade?


O que é TED? TED (Tecnologia, Entretenimento, Design em português) é uma pequena organização sem fins lucrativos dedicada à propagação de ideias (Ideas Worth Spreading). Quem é Ken Robinson? Ken Robinson (05/03/1950), um premiado escritor britânico, é um líder reconhecido internacionalmente no desenvolvimento de inovação e recursos humanos. Em uma de suas palestras mais famosas na internet, está a que ele apresentou no TED onde indaga: as escolas matam a criatividade? Abaixo está o vídeo da apresentação, legendado em português.

[TED pt_BR] Ken Robinson: Escolas matam a criatividade? (parte 1/2)

[TED pt_BR] Ken Robinson: Escolas matam a criatividade? (parte 2/2)

Abaixo está o texto da legenda, editado, ótimo para consulta de trabalhos sobre didática: 
Tedtalkportugues.blip.tv
TEDtalks em Português 
Vídeo traduzido pelo colaborador: Hélio Alberto Silvério Fernanades 

Foram abordados três tópicos. Ao longo de toda a conferência, e todos relevantes para o que eu quero lhes falar. Primeiro, a extraordinária evidência da criatividade humana em todas as apresentações que tivemos e em todas as pessoas presentes. Quanta variedade e abrangência! O segundo é o fato de não fazermos a menor ideia do que vai acontecer, em termos de futuro. Não temos ideia do que vem por aí. Eu tenho interesse pela educação. Na verdade, descobri que todo mundo tem interesse pela educação. Por que é um daqueles assuntos que tocam fundo nas pessoas, como religião, dinheiro, e outras coisinhas. Eu tenho um grande interesse pela educação, e acho que todos temos. Temos um interesse considerável por ela, em parte porque é a educação que deverá nos garantir aquele futuro tão difícil de alcançar. Pensando bem, as crianças que entrarem na escola esse ano só vão se aposentar em 2065. Ninguém tem noção, apesar de toda a perícia que testemunhamos nestes últimos quatro dias, de como o mundo vai estar daqui a cinco anos. Mas temos de educá-las para esse mudo. E essa imprevisibilidade, pra mim, é extraordinária. E o terceiro, e aquele em que todos sem dúvida concordamos, é aquela extraordinária capacidade que as crianças tem: sua capacidade de inovar. Veja só: Sirena, a noite passada, foi maravilhosa, não foi? As coisas que ela consegue fazer! Ela é excepcional, mas não acho que ela o seja por estar, por assim dizer, na flor da infância. O que vimos ali foi uma pessoa com uma dedicação extraordinária que achou seu talento. E o que luto pra provar é que todas as crianças têm um tremendo talento, e nós arracamos isso delas, de modo bem cruel. Então, quero lhes falar sobre educação e quero lhes falar sobre criatividade. Sou da opinião de que a criatividade, hoje, é tão importante na educação quanto a alfabetização e de que devíamos tratá-la com a mesma importância. Ouvi uma história ótima recentemente. Adoro contá-la. É sobre uma garotinha que estava na aula de desenho. Ela tinha seis anos e estava lá no fundo, desenhando. A professora contou que essa garotinha quase nã prestava atenção, mas essa aula de desenho a interessou. A professor, fascinada, foi até ela e perguntou: "O que está desenhando?" E a menina respondeu: "Estou desenhando um retrato de Deus." E a professor disse: "Mas ninguém sabe como é Deus". Ao que a menina retrucou: "Vão saber num minuto." Quando meu filho tinha 4 anos, na Inglaterra... Ele estava representando a Natividade (Natal). Mas james ficou com o papel de José, o que nos deixou empolgados. Achávamos que era um dos papéis principais. Lotamos o lugar com "agente" usando camisetas: "James Robinson É José!" Ele não tinha fala nenhuma fala, mas vocês conhecem a parte onde chegam os Três Reis. Eles entram trazendo presentes, e trazem ouro, incenso e mirra. Isso aconteceu de verdade: estávemos lá sentados e achamos que eles simplesmente erraram a ordem. Conversamos com o pequeninho depois e perguntamos se aquilo estava mesmo certo, e ele respondeu: "Sim. Por quê? Estava errado?" Eles simplesmente trocaram. Acho que foi isso. De qualquer modo, os três meninos entraram, meninhos de quatro anos com toalhas de chá na cabeça, e puseram aquelas caixas no chão. E o primeiro deles disse: "Eu trago-lhes ouro." E o segundo falou: "Eu trago-lhe mirra." E o terceiro disse: "Frank mandou isso aqui." O que essas coisas têm em comum é que as crianças assumem riscos. Quando não sabem a resposta, elas chutam. Estou certo? Elas não têm medo de errar. Agora, eu não estou querendo dizer que estar errado é a mesma coisa que ser criativo. O que sabemos é que, se você não estiver preparado pra errar, você nunca vai ter uma idéia original. Se você não estiver preparado pra errar. E quando finalmente se tornam adultas, a maioria das crianças já perdeu essa capacidade. Elas adquirem verdadeiro pavor de errar. E nós tocamos nossas empresas assim, estigmatizando os erros. E agora estamos tocando sistemas educacionais nacionais em que erros são a pior coisa que se pode cometer. E o resultado é que estamos produzindo indivíduos desprovidos de criatividade. Certa vez, Picasso disse que todas as crianças nascem artistas. O difícil é continuar artista enquanto se cresce. Eu acredito apaixonadamente nisso, que não crescemos rumo à criatividade, mas pra longe dela. Ou melhor: somos ensinados a abandoná-la. Mas por quê? Eu morei em Strafford-on-Avon até uns cincos anos atrás. De fato, mudamos de Stratford para Los Angeles, então dá pra imaginar como essa transiçaõ foi turbulenta. Na verdade, morámos num lugar chamado Snitterfield, nos arredores de Stratford. Mas uma coisa salta aos olhos quando se muda para a América e quando se viaja ao redor do mundo: todo sistema educacional do planeta tem a mesma hierarquia de disciplinas. Todos eles não importa para onde se vá. Você pode achar que não é assim, mas é. No topo estão matemáticas e línguas, depois vêm as ciências humanas e por fim as artes. Em qualquer lugar do mundo. E em praticamente todos os sistemas, há uma hierarquia dentro das artes. Pintura e música normalmente recebem mais atenção das escolas do que teatro e dança. Não há nenhum sistema educacional no planeta que ensine dança diariamente às crianças da mesma forma que ensinamos matématica. Por quê? Por que não? Eu acho a dança muito importante. Acho que a matemática é também muito importante, mas a dança também é. As crianças dançam o tempo todo, se lhes damos oportunidade. Todos dançamos. O que realmente ocorre é que, a medida em que as crianças crescem começamos a educá-las progressivamente da cintura pra cima. E, por fim, nos concentramos em suas cabeças. E meio que em um só lado. Se você fosse um ET visitando nossas escolas para determinar o objetivo, digamos da educação pública, acho que teria de concluir, se olhasse pro resultado final, pra quem realmente obtém sucesso pra quem faz tudo o que é preciso, pra quem são os vencedores, creio que teria de concluir que o propósito máximo da educação pública ao redor do globo é produzir professores universitários. E não é? São eles que estão lá no topo. E só pra constar, eu já fui um. E eu gosto de professores universitários mas saiba que não devíamos considerá-los o pináculo do desenvolvimento humano. Eles são só uma forma de vida, outra forma de vida bastante peculiar, e digo isso com todo o carinho, mas tem uma coisa muito peculiar neles: não são todos, mas eles tipicamente vivem em suas cabeças, vivem ali em cima, e mais pra um certo lado. Eles são desincorporados. De um modo quase literal. Eles encaram seus corpos como um meio de transporte para suas cabeças, não é? Como uma forma de levar a cabeça às conferências. A propóstico, se você quiser provas reais de experiências extra-corpóreas, basta comparecer a uma convenção local de acadêmicos sênior e dar um pulinho na discoteca na última noite. E lá você vai ver homens e mulheres, todos adultos, se contorcendo incontrolavemente e sem ritmo, só esperando que aquilo acabe pra poderam ir pra casa escrever um relatório do evento. Nosso atual sistema acadêmico está escorado no conceito de habilidade acadêmica. Há um motivo pra isso. Em todos os lugares do mundo, o sistema foi inventado. Não haviam sistemas públicos de educação, verdadeiramente, antes do século XIX. Todos nasceram para suprir as necessidades do industrialismo. E assim a hierarquia está apoiada em duas idéias: primeira, a de que os assuntos mais relevantes ao trabalho são prioridade. Então você provavelmente foi benevolentemente desviado de certas coisas na escola quando era criança, coisas de que gostava,com base na premissa de que nunca arranjaria trabalho fazendo aquilo. Isso está certo? Não faça música, você não vai ser músico; não faça arte, você não vai ser artista. Conselhos bem-intencionados, mas profundamente errados. O mundo inteiro está envolto numa revolução. E, segunda, a de habilidade acadêmica, que realmente dominou nossa visão de inteligência por que as universidade projetaram o sistema à própria imagem. Se olharmos bem, veremos que a totalidade do sistema educacional mundial é um prolongado processo de admissão em universidades. E a consequência é que muitas pessoas altamente talentosas, brilhantes e criativas não se vêem dessa forma por que aquilo em que eram boas não era valorizado pela escola, ou estigmatizado, até. E não podemos admitir que isso continue. Nos próximos trinta anos, segundo a Unesco, mais gente ao redor do mundo vai estar se formando através da educação do que desde o princípio da história. Mais gente! E é a combinação de tudo aquilo sobre o que estivemos falando: tecnologia, seu efeito transformador do trabalho, demografia, e a enorme explosão populacional. De repente os diplomas não valem mais nada. Não é verdade? Quando eu estudava, quem tinha um diploma tinha um emprego. Se não tivesse um emprego era porque não queria um emprego. Mas agora os jovens diplomados estão voltando pra casa pra continuar jogando seus vídeo games, por que é preciso ter um mestrado para ocupar a vaga que antes exigia bacharelado e agora é preciso um PhD pra ocupar a de mestrado. É um processo de inflação acadêmica. E ele mostra que toda o alicerce da educação está ruindo sob nossos pés. Precisamos radicalmente repensar nossa noção de inteligência. Sabemos três coisas sobre a inteligência: Primeira: diversidade. Nós pensamos no mundo através das formas como o experimentamos. Pensamos visualmente, pensamos no som, pensamos cineticamente. Pensamos em termos abstratos, pensamos em movimento. Segundo: a inteligência é dinâmica. Se você olhar para as interações de um cérebro humano, como ouvimos ontem em um bom número de apresentações, verá que a inteligência é maravilhosamente interativa. O cérebro não é divido em compartimentos. De fato, a criatividade, que eu defino como o processo de ter idéias originais que possuam valor, com bastante freqüência manifesta-se através da interação de diferentes formas disciplinares de se ver as coisas. O cérebro é intencionalmente... A propósito, há um aglomerado de nervos que une as duas metades de um cérebro chamado corpus callossum, e que é mais grosso nas mulheres. Continuando de onde Helen parou ontem, acho que talvez seja a razão das mulheres serem mais multi-tarefa. Por que vocês são, não são? Há pesquisas que confirmam, mas eu sei por experiência pessoal. Lá em casa, quando minha esposa está fazendo comida, o que acontece pouco... ainda bem... mas, sabe, ela faz... (ah, ela é boa em certas coisas!) Enquanto cozinha, sabem ,ela conversa com gente ao telefone, fala com as crianças, pinta o teto, faz até uma cirurgia de peito aberto, ali mesmo; Se sou eu cozinhando, a porta está fechada, as crianças saíram, o telefone está no gancho, e ela entra, eu fico chateado. Eu digo: "Terry, por favor, eu estou tentando fritar um ovo, aqui..." "me dá um tempo!" Conhecem aquele velho lance filosófico? Se uma árvore tomba na floresta e ninguém ouve, será que aconteceu? Lembrei de uma coisa engraçada. Vi uma camiseta legal esses dias, onde se lia: "Se um homem diz o que pensa numa floresta, mas não tem nenhum mulhere ouvindo, ele ainda está errado?" E a terceira característica da inteligência é ser distinta. No momento, estou trabalhando em um livro chamado "Epifania", que é baseado numa série de entrevistas com pessoas sobre como descobriram seus talentos. Estou fascinado por como essas pessoas chegaram onde estão. E o gatilho de tudo foi uma conversa que tive com um mulher maravilhosa de quem talvez a maioria nunca tenha ouvido falar. Ela se chama Gillian Lynne, já ouviram falar dela? Alguns ouviram. Ela é coreógrafa e todos conhecem seu trabalho. Ela trabalhou em "Cats" e "O Fantasma da Ópera" , é maravilhosa. Eu fazia parte do conselho do Royal Ballet, na Inglaterra, como podem notar, e Gillian e eu almoçamos juntos um dia. Aí perguntei: "Gillian, como você se tornou dançarinha?" E ela respondeu que foi interessante, pois quando ela estava na escola não aprendia nada. Aí a escola, nos anos 30, escreveu aos pais dela dizendo: "Achamos que Gillian tem dificuldade para aprender." Ela não conseguia se concentrar ficava viajando. Acho que era a forma deles dizeram que ela tinha TDAH. Vocês concordam? Mas eram os anos 30, e o TDAH ainda não tinha sido inventado. As pessoas nem sabiam que podiam ter esse negócio. De qualquer modo, ela foi ver se um especialista, num escritório todo revestido de carvalho. Lá estava ela com sua mãe, e a puseram sentada numa cadeira no canto, onde ela ficou sentada, imóvel, por 20 minutos, enquanto esse médico conversava com sua mãe sobre todos os problemas que Gillian estava tendo na escola. E ao final de tudo... Por que ela estava incomodando os outros, seu dever-de-casa estava sempre atrasada, garotinha de 8 anos, e coisa e tal... Por fim, o médico sentou-se perto de Gillian e disse: "Gillian,eu ouvi todas essas coisas que sua mãe me contou,e agora preciso falar com ela em particular." E prossegui: "Espere aqui, já vamos voltar, não vamos demorar." Em seguida, a deixaram sozinha. Mas, enquanto saíam da sala, ele ligou o rádio que estava sobre sua mesa. Uma vez fora da sala, ele disse à mãe dela: "Fique aí e observe-a" E mal eles havaim deixado a sala, contou-me, ela já estava de pé, movendo-se com a música. Eles a observaram por alguns minutos e ele volou-se para a mãe dela, dizendo: "Sra. Lynne, Gillian, não é doente; ela é dançarina." "Coloque-a numa escola de dança." Perguntei: "E o que aconteceu?" Ela respondeu: "Ela colocou." "Nem sei te dizer o quanto foi maravilhoso." "Andamos por essa sala cheia de gente igual a mim, gente que não parava quieta" "Gente que tinha de se mexer para pensar." Uns faziam balé, outros sapateado, outros jazz, uns dança moderna, outros dança contemporânea..." Eventualmente, ela fez um teste para a Royal Ballet School, tornou-se uma solista e teve uma carreira maravilhosa no Royal Ballet. Ela se formou na Royal Ballet School, fundou sua própria companhia, a Gillian Lynne Dance Company, e conheceu Andrew Lloyd Weber. Ela foi responsável por algumas das mais bem-sucedidas produçõe teatrais musicais da História. Ela levou alegria a milhões de pessoas, e tornou-se multimilionária. Uma outra pessoa, podia ter lhe receitado remédios e mandado ela se acalmar. Agora, eu acho... O que eu acho é o seguinte: Al Gore falou sobre ecologia, uma noite dessas, e sobre a revolução que foi iniciada por Rachel Carson. Eu acredito que nossa única esperança para o futuro é adotar uma nova concepção de ecologia humana, na qual comecemos a reconstituir nossa concepção das riquezas da capacidade humana. Nosso sistema educacional tem pilhado nossas mentes da mesma forma que pilhamos a terra, em busca de certas matérias-primas, e no futuro, isso de nada nos servirá. Temos de repensar os princípios fundamentais nos quias baseamos a educação de nossas crianças. Há uma citação maravihosa de Jonas Salk, que diz: "Se todos os insetos viessem a desaparecer da Terra, em 50 anos toda a vida no planeta desapareceria.Se todos os seres humanos desaparecessem da Terra, em 50 anos todas as formas de vida floresceriam." E ele está certo. O que TED celebra é o dom da imaginação humana. Temos de ter muito cuidado para usar esse dom com sabedoria, e assim nos desviamos de algumas das situações sobre as quais falamos. E a única forma de fazermos isso é encarar nossas capacidades criativas como riqueza que representam, e encarar nossas crianças como esperança que representam. E nossa tarefa é educá-las em todo o seu ser, para que elas possam enfrentar esse futuro... A propósito, podemos não ver esse futuro, mas elas verão. E nosso trabalho é ajudá-las a tirar algo de bom dele. "
   
Sobre o TED 


"Tudo começou (em 1984) como uma conferência que reúne pessoas de três mundos: Technology, Entertainment, Design. Desde então, seu âmbito de aplicação tem se tornado cada vez mais amplo. Suas apresentações são limitadas a dezoito minutos, e os vídeos são amplamente divulgados na Internet. Hoje, a TED é, portanto, melhor pensada como uma comunidade global. É uma comunidade acolhedora pessoas de cada disciplina e cultura que têm apenas duas coisas em comum: eles buscam uma compreensão mais profunda do mundo, e eles esperam transformar essa compreensão em um futuro melhor para todos nós. " 
No Youtube, tem o canal TedTalksPortugues (http://www.youtube.com/user/TedTalksPortugues) com vários vídeos legendados em português, por voluntários. No site oficial (http://www.ted.com/) também dispõe de uma coletânea de vídeo da conferência, basta ir em talks/list e nas opções laterais em "Show talks subtitled in" escolha "Portuguese (Brazil)", isto irá refinar os resultados apenas com vídeos legendados em português. Também pode escolher os resultados por ano de conferência, por tempo, por mais traduzidos, mais favoritados, entre outras opções.

Fontes: http://www.ted.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/TED_%28confer%C3%AAncia%29
http://en.wikipedia.org/wiki/Ken_Robinson_%28British_author%29

*originalmente postado no blog Sequelanet
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